Democracia também é igualdade entre gêneros

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A menos de uma semana para atos de 13 de março, mulheres na Paulista cobram reforma para participação igual na política

Debaixo de sol ou de chuva, elas estão sempre na luta e não foi diferente nesse domingo, 8 de março. Com bandeiras, cartazes, apitos, rostos e corpos pintados, cerca de oito mil mulheres saíram em marcha da Avenida Paulista até a Praça Roosevelt, centro paulistano.

A pauta do tradicional ato do Dia Internacional de Luta da Mulher foi liberdade, igualdade e autonomia e teve relação direta com um dos eixos que a CUT e parceiros dos movimentos social e sindical levarão às ruas nas mobilizações do próximo dia 13 de março.
A defesa da democracia engloba os três pontos do Dia 8 de Março deste ano e é fundamental para garantir a maior participação feminina em espaços de decisão, a base das transformações, conforme destacou a secretária de Mulheres da Central, Rosane Silva.

“Para fazer avançar a democracia no nosso país, queremos que as mulheres estejam no cotidiano do Parlamento, do Executivo, do movimento sindical e dos partidos políticos como estão no cotidiano dos lares. Só assim garantiremos mais recursos para políticas públicas de saúde e educação, fundamental para nós porque ainda somos as únicas responsáveis pelo cuidado da família e queremos ter mais tempo para participar das instâncias de poder”, disse.

Para a dirigente, a política de pende de uma reforma que altera especialmente a forma como os candidatos participam das eleições. “Queremos o fim do financiamento empresarial e o voto em lista com alternância de gênero para que tenhamos as mesmas condições de sermos eleitas que os homens. Esse é o caminho para garantir uma sociedade justa e igualitária”, acrescentou.

O mecanismo de aliciamento de candidatos gera uma representatividade no Congresso que não reflete a sociedade brasileira, onde as mulheres são maioria, conforme destacou a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-SP, Sônia Auxiliadora.

“Não queremos esse financiamento que beneficia quem já é favorecido, relegando às mulheres 10% de participação no Parlamento. Também não queremos um Congresso onde é preciso fazer acordo com banqueiros e empresários, que não representam a classe trabalhadora”.

Rosane lembrou ainda que a presidenta Dilma Rousseff deve sancionar nesta segunda (9) o Projeto de Lei que típica o feminicídio no Código Penal (crimes contra a mulher por razões de gênero como a violência doméstica e familiar),

“Essa é mais uma conquista nossa, mas temos muito a avançar, especialmente na estrutura para atender as mulheres vitimas de violência e o combate ao machismo no Poder Judiciário que aplica as penas”, lembrou.

Crise afeta mais as mulheres

Apesar de ter tumultuado a saída da caminhada, a chuva forte que caiu na Avenida Paulista gerou um sentimento de alívio diante da crise hídrica no Estado comandado pelo PSDB. Nos discursos, elas ressaltaram o quanto a falta de água tem prejudicado o cotidiano das mulheres, principalmente nas periferias.

Cartazes pelo fim da violência doméstica e pela legalização do aborto lembravam que a vida não deve ser nada fácil a partir deste ano com o Congresso mais conservador desde 1964.

“Felicianos, Bolsonaros e Cunhas estão passando por cima de nossos cadáveres. Aborto, legalize já!”, defendia.

Para a militante da Marcha Mundial de Mulheres Sônia Coelho a autonomia feminina é justamente um dos grandes gargalos para o movimento de mulheres.

“Precisamos avançar nos direitos ligados à nossa autonomia para que não vejamos o que vimos recentemente, uma jovem sendo algemada à cama de um hospital (em São Bernardo do Campo – SP) porque praticou um aborto e teve de ser atendida. Com esse Congresso, corremos muito mais risco que qualquer outro setor, basta ver que todos os projetos do Eduardo Cunha (PMDB-RJ, presidente da Câmara) são para transformar o aborto em crime hediondo. Ele tem conjunto de maldades para impor a nós”, definiu.

Como não poderia deixar de ser, a crise e as medidas recessivas adotadas pelo governo federal e estaduais com ataques a direitos trabalhistas também foram criticadas pelas trabalhadoras.

Servidores na mira

A desigualdade no momento de promover e abrir espaço nas empresas também foi lembrado. Os bancos são um bom exemplo. Apesar terem 52% de bancárias, elas ocupam somente 0,3% dos cargos de direção. “E isso ainda porque temos uma cláusula de igualdade de gênero e raça em nossa convenção coletiva nacional. A questão exige ainda mais mobilização nossa para que esse diferença seja combatida”, disse Maria Rosane Hashizumi, secretária de Relações Sindicais e Sociais do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

No serviço público, apesar da aprovação ser por meio de concursos, que o critério de gênero como na aprovação do candidato, o preconceito se dá de outra forma.

Em São Paulo, o governo comandado Geraldo Alckmin (PSDB) entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no Supremo Tribunal Federal para impedir a licença-maternidade de funcionárias públicas em estágio probatório – que dura três anos e antecede o período de estabilidade. “Essa é mais uma truculência de um governo que precariza a educação”, disse Suely Fátima de Oliveira, secretária para Assuntos da Mulher da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo).
Como a CUT e outras 507 entidades que compõe uma campanha em defesa de uma Constituinte exclusiva e soberana para discutir o sistema político, ela acredita que o momento é de radicalizar a democracia. Um plebiscito popular realizado em 2014 colheu quase 8 milhões de assinaturas para que o Congresso convoque a consulta.

Os obstáculos para as mulheres paulista é ainda maior quando se deparam com a necessidade de conciliar estudo e trabalho. Por barbeiragens na administração tucana, que lançou a Universidade de São Paulo (USP) a uma crise sem precedentes, nenhuma vaga na creche da faculdade foi aberta neste ano.

“Com isso, muitas mães estudantes são obrigadas a decidir entre cuidar dos filhos ou estudar”, relata a representante da União Nacional dos Estudantes Karina Teixeira.

A jovem liderança Juliana Gonçalves destacou a luta do povo negro contra o genocídio, que mata principalmente os jovens de até 24 anos no Brasil, e convocou as participantes para a Marcha da Mulher Negra Contra o Racismo e pelo Bem Viver, que ocorrerá dia 18 de novembro, em Brasília, num marco de ação política organizada das mulheres negras na rua.

“Para isso temos que sobreviver, as mulheres negras têm que vencer as dificuldades diárias já que representam os piores índices de direitos humanos. Só depois de superar a questão da sobrevivência é que vamos poder lutar contra a opressão de raça e classe que recaem sobre a mulher negra”.

Fonte: CUT

 

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