Muitos deputados que votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff em 17 de abril estavam de olho nas redes sociais e manifestaram sua posição de acordo com o que “achavam que era do interesse dos seus eleitores”. Naquele momento, as pessoas que foram às ruas pelo afastamento da presidenta compraram a ideia midiática de que “Dilma era o problema da humanidade, do Brasil, que tinha que afastar a Dilma e tudo se resolveria”. Com menos de três meses de governo interino de Michel Temer, as pessoas comuns já percebem que o problema do Brasil não era Dilma, diz o presidente da CUT, Vagner Freitas. “As pesquisas têm demonstrado isso, cada vez mais.”
Os senadores que vão votar o impeachment no Senado, no final de agosto, assim como os deputados, acompanham os humores da população e seus eleitores. Só que o cenário mudou. Vagner explica por que tem expectativas otimistas: “Agora os senadores vão fazer a mesma coisa que os deputados, mas percebendo que a ideia do golpe não tem mais o apelo popular que tinha. Pelo contrário. Até instituto de pesquisa de empresa grande fica manipulando resultado. A aceitação do governo golpista é baixíssima”, diz. “Está acabando a ilusão de que, com o Meirelles (Henrique Meirelles, presidente do Banco Central), com o mercado no centro do governo, se resolveria o problema.”
Além da economia, “a cada momento tem um fato de corrupção novo, dos ministros, do próprio presidente”. Para o sindicalista, “mesmo com a maquiagem feita pela mídia golpista, nem tudo pode ser escondido”.
Vagner fala também da posição da entidade sobre antecipar as eleições. “A CUT não acha que esse seja o centro da política atual. O centro é impedir o golpe. Nossa resolução é clara.” Mas ele ressalva que todas as entidades dos movimentos sociais estão unidas em torno da defesa da democracia e de um ponto comum: “É o ‘Fora Temer’ que nos unifica”.
Como avalia a conjuntura política?
Obrigatoriamente a gente vai ter um aquecimento das manifestações, quanto mais chega perto o dia da votação no Senado. Tanto a Frente Brasil Popular como a Frente Povo sem Medo – e a CUT atua nas duas – estão construindo um calendário. Dia 16 tem as manifestações das centrais. No domingo agora (31) já acontecem as manifestações do MTST (trabalhadores sem-teto, dentro do calendário da Frente Povo sem Medo), que não é uma atividade de todos, mas é do MTST contra o golpe. Estamos construindo outras datas conjuntas. Estamos construindo uma agenda para convencer os senadores de que o golpe é um retrocesso, inclusive para os seus eleitores.
Não tenho dúvida de que a possibilidade de impedir o golpe vem da conversa e das articulações políticas feitas com os senadores, mas que só podem ser efetivadas se tiver muita pressão de rua, pra que os senadores percebam que a opinião pública brasileira, hoje, é absolutamente contrária ao golpe. As pesquisas têm demonstrado isso, cada vez mais. Estou com expectativa muito positiva. Porque, por exemplo, quando teve a votação na Câmara dos Deputados, era uma outra conjuntura. Você tinha, por conta do trabalho da mídia golpista, uma maior aceitação da sociedade em relação ao golpe.
Quais suas expectativas em relação aos movimentos sociais e à CUT, em particular, quanto às mobilizações e sua influência na votação do impeachment no Senado?
Mesmo com a construção que a mídia golpista faz todos os dias, e agora fazendo alarde dos primeiros atos do governo golpista, as pessoas estão percebendo que o governo é contra os trabalhadores, contra a democracia. Eles perderam muito a capacidade de discutir com as pessoas e construir o golpe. Muitos daqueles deputados que votaram em 17 de abril, votaram olhando as redes sociais e o que achavam que era do interesse dos seus eleitores.
Agora os senadores vão fazer a mesma coisa, mas percebendo que a ideia do golpe não tem mais o apelo popular que tinha. Pelo contrário. Até instituto de pesquisa de empresa grande fica manipulando resultado. A aceitação do governo golpista é baixíssima e a aceitação do golpe também. A mídia golpista tenta dar como favas contadas. Do jeito que falam, parece que já acabou. E não é verdade. Há vários senadores impactados com essa falta de apoio popular ao governo golpista e à proposta do golpe. Precisamos potencializar essa insatisfação popular contra o golpe.
As pesquisas estão mostrando que as pessoas “comuns” – que não são de movimento social organizado e iam à rua defender o impeachment – estão se dando conta do que significa o golpe?
Eu acho. Eles venderam a ideia de que a Dilma era o problema da humanidade, do Brasil, que tinha que afastar a Dilma e tudo se resolveria. O problema do Brasil não é este. Existe uma crise econômica enorme, causada por uma crise política dos mesmos que transformaram o Brasil nesse terceiro turno que não acaba. As pessoas acharam que a saída da Dilma ia acabar com o desemprego, com a violência.
Mas o desemprego continua crescendo, as medidas do governo golpista na área econômica não trazem nenhum efeito para a geração de emprego e até analistas conservadores já começam a se desiludir. Está acabando aquela ilusão de que, com o Meirelles, com o mercado no centro do governo – porque a equipe econômica é “maravilhosa”, de “notáveis” – ia resolver o problema. A taxa de juros continua no mesmo patamar, o desemprego continua crescendo. O trabalhador comum, a dona de casa, eles veem o preço do feijão, veem que a carne está mais difícil de achar na prateleira.
E o Brasil vai passando uma sensação de não cumprimento de acordos. Como você vai ter investidor internacional colocando recurso no Brasil com essa instabilidade política, com um governo que toma uma medida às 10 horas da manhã e modifica ela às 5 da tarde? A cada momento tem um fato de corrupção novo, dos ministros, do próprio presidente. Mesmo com a maquiagem feita pela mídia golpista, nem tudo pode ser escondido. E a ideia de que tinha que acabar com a corrupção tirando a Dilma do governo?
Por outro lado, como estão reagindo as pessoas dos movimentos sociais organizados, já que muita gente que votou em Dilma se decepcionou com o segundo mandato, Joaquim Levy na Fazenda etc, mas depois foi à rua defender o governo?
Essa população sabe que foi infeliz a tocada da política econômica do início do segundo mandato da presidenta. A CUT disse isso. A CUT não entendeu a nomeação do ministro Levy, não entendeu a exacerbação do superávit primário, a paralisia da economia. Nós avisamos que isso não ia dar certo, que ia trazer impopularidade para o governo. Que o governo ia ficar sem o apoio popular que o elegeu. E o mercado, para quem ele acenava, porque foi claramente um aceno ao mercado, ia abandoná-lo também. Todas as entidades sociais ficaram mesmo frustradas.
Mas elas não confundem. Uma coisa é você poder intervir num governo democraticamente eleito e saber que há interlocução dele conosco. Outra coisa é ter um golpe de direita e não ter condição de conversar. Eles não conversam e não gostam da democracia. É o “Fora Temer” que nos unifica. Os movimentos sociais querem que a Dilma volte, porque foi eleita, mas para quando ela voltar discutir a plataforma que foi eleita em 2014, para ela colocar em funcionamento. A plataforma que derrotou o Aécio.
Eu falo com muita gente pela minha função, gente que votou na presidenta Dilma, que tem até afeição pela forma de fazer política do PT ou os partidos de esquerda, que achavam mesmo que realmente havia uma quadrilha construída no Brasil em tornou da Petrobras, do que o PT construiu. Estão percebendo que era uma grande mentira, que foi construída uma narrativa que não é verdadeira. A Lava Jato, por exemplo. Os golpistas achavam que com a derrubada da Dilma fossem construir um acordo para acabar com a Lava Jato. E a população também achava que isso ia acontecer. Não está acontecendo, pelo contrário. Você vê denúncias feitas durante o governo golpista sobre ministros de governo, e cada vez chegando mais perto do governo golpista. Não é só o movimento social que percebeu isso.
Qual a posição da CUT sobre antecipar as eleições?
A CUT não acha que esse seja o centro da política atual. O centro é impedir o golpe. Nossa resolução é de que não vamos sair fazendo campanha por antecipação de eleições. Mas, se Dilma e o governo que foi eleito, tirado de maneira violenta do poder, utilizar isso como instrumento, partindo dos senadores e da presidenta, para ajudar que os senadores votem contra o golpe, a CUT não vai se opor. Não partirá da CUT, mas a CUT não fará oposição sistemática a isso. Nossa resolução é clara. A presidenta tem alternativa de contar conosco para impedir o golpe.
O que une todo o movimento social é o “Fora Temer”…
É o “Fora Temer”, não ter o golpe, e a gente ter uma agenda progressista de novo, a volta da Dilma vir ancorada na proposta que a elegeu contra a proposta dos conservadores.
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