Banqueiros endurecem negociação e mostram o que o golpe reserva aos trabalhadores

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Oferecer abono é ludibriar trabalhadores para não conceder aumento justo de salário. Bancários se mobilizam para o dia 22 de setembro

As consequências de um governo forjado no golpe vão muito além das medidas que o Executivo adota. Para quem não foi eleito, a vontade popular importa pouco e essa visão acaba por refletir na forma como patrões endurecem a negociação com os trabalhadores.

Assim está sendo conduzido o diálogo entre banqueiros e bancários neste ano, marcado pela volta do neoliberalismo ao país e associado a um ataque criminoso aos direitos dos trabalhadores, conforme aponta o presidente da Contraf-CUT (Confederação dos Trabalhadores no Ramo Financeiro), Roberto von der Osten, o Betão.

Os bancários são a primeira categoria a entrar em greve após o impeachment e chegaram nesta quinta-feira (14) ao décimo dia de greve. A paralisação é recorde com 12.386 agências e 46 Centros Administrativos fechados, o equivalente a 53% do total de unidades do país.

Os bancos oferecem reajuste de 7% dos salários (2,39% abaixo da inflação) e abono de R$ ,3, mil, sem compromisso com a manutenção do emprego na categoria. Em agosto, a inflação do período fechou em 9,62%,.

“A Fenaban começou um processo de conta gotas, de 6,5% passa para 7%, o abono de R$ 3 mil passa para R$ 3,5. E aí os banqueiros fazem comunicado afirmando que tem até 18% de abono em determinadas faixas e esconde o que significa o abono”, critica.

O modelo é o mesmo utilizado pelos bancos durante o período do governo Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 2002, aponta Betão.

“Com a chegada de FHC e o início da hegemonia de pensamento neoliberal no país, tivemos período muito duro, oito anos em que os bancos usaram a tática de tentar dar reajuste muito abaixo da inflação e abono para cobrir a perda salarial. Mas termina o ano e a perda se configura porque o abono acaba e não é integrado ao salário”, lembra.

Enquanto isso, o lucro dos cinco maiores bancos do país (Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Caixa) chegou a R$ 29,7 bilhões apenas no primeiro semestre de 2016. Mesmo período em que houve o corte de 7.897 postos de trabalho.

“O crescimento da folha seria uma parte muito pequena em relação ao lucro para os banqueiros que dizem ter responsabilidade social. Isso num ano em que ainda têm o segundo semestre para arrecadar”, afirma Betão.

Como mobilizar trabalhadores na crise

O presidente da Contraf-CUT acredita que o êxito de uma mobilização em período de crise parte de uma construção nacional e coletiva.

“A partir de 1982, unificamos a data-base dos bancários do Brasil todo e, em 1985, quando fundamos o departamento nacional dos bancários da CUT, entregamos uma minuta específica aos banqueiros inaugurando a comissão nacional de negociação. Construir a unidade nacional para enfrentar os bancos, que começavam a ser nacionais, tem sido o grande segredo do nosso ramo para conservar muitos direitos que outras categorias perderam ao longo do tempo.”

Com um diálogo que envolve 10 federação e 145 sindicatos, a campanha acumulou 20,8% de ganho real em 13 anos, período em que cresce a valorização e a mobilização da classe trabalhadora com a ascensão do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

“Quando o modelo FHC é derrotado e começa o período Lula, especialmente a partir de 2004, fazemos paralisações fortes, conseguimos a inflação e iniciamos período de ganho real. É lento, mas foi um avanço”, pontua.

Norte para outras categorias

O presidente da Contraf rebate a ideia que tem sido defendida por alguns veículos de comunicação que tentam pregar na mobilização dos bancários um viés partidário.

“Alguns veículos de comunicação financiados pelos bancos têm dito que nossa greve é político-partidária. A população não é boba e sabe que há mais de 30 anos fazemos campanha na mesma época. Sempre entregamos nossa minuta no inicio de agosto, após conferência nacional em julho. E nossas greve ocorrem entre final de agosto e outubro. Quem diz que a greve é partidária, ou tem desconhecimento da história ou tem intenção de nos desmobilizar.”

Rumo ao dia 22

Mesmo sem o viés partidário, ressalta Betão, a categoria não pode ficar indiferente aos riscos de ataques a direitos trabalhistas.

Por isso, em 22 de setembro, a categoria também entrará forte no Dia Nacional de Paralisação e Mobilização convocado pela CUT e pelas demais centrais.

“Nossa greve é por emprego, reajuste salarial, saúde, segurança, condições de trabalho, igualdade de oportunidades, mas também em defesa de nossos direitos fortemente atacados. Contra a reforma trabalhista, da Previdência para aumentar tempo de contribuição, além dos ataques a bancos públicos.”

Fonte: CUT

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