Em Havana, despedida de Fidel é marcada por renovação de votos da revolução

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Até onde a vista alcança. Esta é a medida mais exata para definir a quantidade de pessoas que participaram na noite desta terça-feira (29), da cerimônia de despedida dos restos mortais de Fidel Castro Ruz, o comandante de Cuba. Além das milhares de pessoas que tomaram a Praça da Revolução, dezenas de chefes de estados e representantes de países das mais diversas partes do mundo compareceram para prestar a última reverência ao líder cubano.

O movimento na praça era ininterrupto desde que suas cinzas foram colocadas para visitação pública. Mas ao longo desta terça-feira o povo cubano começou a chegar para ocupar o espaço e garantir os melhores lugares possíveis para o último adeus na capital do País.

Entre eles estava Violeta Gonzales, de 63 anos, que carregava consigo um cartaz com uma foto de Fidel. Mas o qual o motivo desta idolatria? “Todos nós somos Fidel, ele é nosso pai. Nos ensinou a lutar pela nossa independência, nos ensinou a sermos solidários e humanos. Sem ele estaríamos como antes de 1959, com a exploração do homem sobre o homem, a prostituição e não teríamos saúde e educação. Nós, os negros, não teríamos direitos pois devemos isso a Fidel”, disse a senhora com brilho nos olhos antes de embargar a voz.

Mesmo emocionada, ela não parecia nenhum pouco triste. “Fidel não morreu. Ele está conosco com seu legado”, afirmou. Este parecia ser o sentimento generalizado na Praça da Revolução. Com momentos de emoção, mas sem uma tristeza exagerada.

Os 90 anos do comandante e a certeza de que tudo está planejado para que o País siga o rumo do socialismo, ditando o exemplo de uma sociedade que busca a igualdade entre os seus e os outros povos. Foi o que disse um membro do comitê esportivo que preferiu não ser identificado. Segundo ele, não há mudanças previstas para Cuba com a morte de Fidel. Assim como não terá com a saída do seu irmão, Raul Castro, do comando do País em 2018, data estipulada por ele. “Está tudo planejado”, garantiu.

Ele também reforçou a importância de Fidel para os negros, a exemplo de dona Violeta. “Antes dele, os negros engraxavam sapatos e vendiam jornais. Hoje, eu, por exemplo, conclui a graduação e tenho mestrado. Antes de Fidel isso era impossível”, sentenciou. Para ele, a expectativa é que a aproximação com os EUA traga mais recursos para o País por meio do turismo. Mas, a exemplo dos outros cubanos e líderes internacionais, condenou veementemente o embargo imposto pelos Estados Unidos.

No meio deste cenário era possível perceber alguns estrangeiros acompanhando atentamente a movimentação. A maioria deles já com viagem programada acabou sendo pega de surpresa com a situação. É o caso da sueca Clara Rudelius, de 19 anos, que estava no País há dois meses e prestes a voltar para casa.

Mas o que exatamente Clara sabe sobre Fidel? “Eu sei que algumas pessoas o odeiam e outras o amam. Eu sei o que todos sabem, mas não sou uma expert no assunto. Eu acho que as pessoas mais velhas sentem por ele, mas vejo muitas pessoas jovens que parecem não ligar muito, pois as vejo tirando fotos em poses que não combinam”, afirmou antes de lamentar o luto imposto pelo governo cubano que impediu suas últimas festas em Havana.

Contudo, a opinião da sueca contrastava com uma serie de outros jovens que carregavam cartazes e falavam na manutenção dos ideais da revolução. Um taxista que prefere não ser identificado explica. “Hoje temos dois tipos de jovens: os que apoiam Fidel e querem a continuidade de todas as suas políticas e uma outra parcela que demanda a liberdade econômica, com facilidades de consumo e viagens, por exemplo”, explicou.

Cada país, uma história – É provável que Clara tenha voltado para a Suécia com mais informações sobre o líder cubano. A cada novo chefe estado ou representante de nação convidado a prestar sua última homenagem ao comandante, ficava claro que Fidel era não só um exemplo para Cuba, mas um elo que ligava vários outros países.

Da integração regional, passando por outros países como a África, a colaboração de Cuba e Fidel está registrada na memória de cada povo.”A derrota histórica das forças racistas consolidaram a vitória em Angola e também garantiram as bases para a independência da Namíbia e a própria liberação da África da Sul. Saudamos ao companheiro Fidel por esse sacrifício. Cuba não estava olhando para o outro, diamantes ou petróleo na África. Os cubanos só queriam ver a liberdade e o fim da África como playground das nações poderosas”, recordou o presidente da África do Sul, Jacob Zuma.

O primeiro ministro grego, Aléxis Tsípras, ressaltou as políticas sociais de Cuba, a coragem do povo cubano e Fidel e disse que o comandante da ilha ensinou muito ao mundo, inclusive sobre o socialismo. “A Cuba de Fidel também nos ensinou que o caminho para o socialismo não está coberto de rosas, também está cheio de dificuldades e revezes”, comentou.

Boa parte dos líderes presentes exaltaram que Fidel continuará vivo, a exemplo de Violeta, a partir de suas ideias e projetos que concretizou. “Fidel seguirá vivendo no rosto das crianças que vão à escola, dos doentes que têm suas vidas salvas. Sua luta continua no esforço de cada jovem idealista empenhado em mudar o mundo”, disse o presidente do Equador, Rafael Corrêa.

“Fidel foi um verdadeiro construtor da paz com justiça social. Quero dizer que Fidel não está morto porque os povos não morrem, principalmente aqueles que lutam por sua independência. Fidel não está morto porque as ideias não morrem. Fidel não morreu porque as lutas não morrem, principalmente aquelas que estão destinadas a dignificar a humanidade. Fidel está acima de sua própria vida. Está instalado para sempre na história da humanidade. Fidel e Cuba mudaram o mundo”, garantiu o presidente da Bolívia, Evo Morales.

Fonte: CUT

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