Projeto que se arrasta há anos, a fábrica de semicondutores Unitec, instalada em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), parece caminhar para o fim, sem nem mesmo ter iniciado a produção de semicondutores. Lançada em 2012, a indústria era apresentada como marco tecnológico e a primeira brasileira a produzir chips, sob investimentos de R$ 1 bilhão. Oito anos depois, funcionários denunciam o abandono por parte dos acionistas e investidores.
Funcionários que pediram para não ser identificados citam uma série de descumprimentos financeiros e trabalhistas não apenas com o corpo funcional, mas também com credores e fornecedores, há mais de dois anos.
A reportagem teve acesso ao documento com a denúncia à Delegacia do Trabalho referente a atrasos de pagamento e descumprimento da convenção coletiva da categoria. Uma reunião de mediação entre a empresa e o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de BH, Contagem e Região (Sindimet) está agendada para a próxima terça-feira.
“Os acionistas não estão cumprindo as obrigações assumidas quando da assinatura do protocolo de intenções, que previa a manutenção de empregos, por exemplo. O Estado concedeu isenção em tributos para a instalação e agora o empreendimento foi abandonado pelos sócios BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG)”, dizem as fontes.
Os funcionários afirmam ainda que, a partir de denúncias ao Ministério Público do Trabalho (MPT) o órgão oficiou o Sindimet para buscar uma solução. Segundo eles, o sindicato entrou em contato com a diretoria, que não deu qualquer informação sobre quando irão honrar com os pagamentos.
“Desde dezembro de 2019 a Unitec não tem a diretoria como determina o estatuto social e acordo de acionistas. O antigo CEO, Frederico Blumenschein, foi destituído em julho 2020 e os acionistas escolheram a Taua Partners para administrar a empresa, mas os próprios executivos disseram para os empregados da Unitec que não estão legalmente empossados e que não podem representar a empresa nem para abrir uma conta no banco. Até hoje a situação não foi resolvida”, afirmou um funcionário.
Condições precárias
Além dos atrasos de salários e benefícios, as denúncias incluem ainda condições precárias de trabalho, dívidas com fornecedores, inclusive interrupção de fornecimento de água por falta de pagamento, e desperdício de dinheiro público e privado.
Outro profissional que pediu anonimato afirmou que a situação da empresa e? caótica: “são quatro meses de salários atrasados, falta de recolhimento de Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS) e da contribuição do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) desde novembro do ano passado, questões ambientais negligenciadas e bens da empresa em deterioração sem manutenção adequada. Não temos condições de trabalho, pois todos os serviços foram interrompidos por falta de pagamento. A empresa está abandonada”, lamentou.
Conforme esta mesma pessoa, em julho, os 13 profissionais ligados à Unitec comunicaram à nova gestão que não retornariam ao trabalho enquanto a situação não fosse resolvida. Desde então, eles não têm nenhum retorno. “Desconfiamos que até mesmo nesta mediação na Delegacia Regional do Trabalho ninguém vá comparecer. Pois os diretores da Taua Partners alegam que não somos responsabilidade deles. Mas caso não haja um acordo, iremos ajuizar a ação”, revelou.
As denúncias ocorrem quase um mês depois de o governo de Minas Gerais indicar a intenção de reestruturar o projeto, com o objetivo de viabilizar o início da produção de semicondutores. Com informações do Diário do Comércio.
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