EPISÓDIOS DE RACISMO EM ESCOLAS MOSTRAM FACE MAIS CRUEL DO EXTREMISMO BOLSONARISTA

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No mês que se tornou uma referência para atividades que inspiram a luta e a resistência do povo negro, que comemora o Dia Nacional da Consciência Negra no dia 20 de novembro, cenas de extremismo após a vitória do ex-presidente Lula (PT) nas eleições deste ano tomaram conta de rodovias e escolas.

Nas estradas e vias públicas foram feitos atos antidemocráticos questionando a derrota de Jair Bolsonaro (PL) com muita violência e desumanidade – até grávidas em trabalho de parto foram impedidas de passar. Nas escolas, as vítimas da intolerância são os negros e os nordestinos.

“Apesar desses ataques, esse 20 de novembro é o 20 de novembro dos últimos seis anos em que a gente vai, enfim, respirar”, diz a professora da rede pública do Estado de São Paulo e secretaria de Combate ao Racismo da CUT nacional, Anatalina Lourenço, se referindo a vitória de Lula que, segundo ela, foi uma vitória da população negra e dos movimentos sociais.

“Nós conseguimos respirar e vislumbrar a possiblidade de garantia da vida”, diz citando o discurso de vitória feito por Lula em São Paulo, como um discurso em que ele assume uma responsabilidade na luta contra o racismo.

Na Paulista, Lula disse que “o racismo é uma doença que nós precisamos extirpar do nosso país!”, e acrescentou: “Não é possível! Deus nos fez iguais, e não é possível que alguém seja tratado como inferior só porque não tem a cor branca. Não há nenhum branco melhor do que nenhum negro, e não há nenhum negro melhor do que nenhum branco. Nós somos iguais”, disse o presidente eleito.

Racismo e xenofobia nas escolas

Depois das eleições, foram registrados vários episódios de xenofobia e, principalmente, racismo, em escolas de elite do Sul e Sudeste do país, aumentando ainda mais a preocupação de educadores e movimentos negros com a discriminação racial no Brasil.

Armados de uma conduta extremamente agressiva, alunos de algumas escolas de classe média alta protagonizaram, de forma escancarada, casos em que o ódio e o preconceito, característicos dos apoiadores inflamados de Bolsonaro, contra estudantes negros.

Em Valinhos, interior de São Paulo, no ‘tradicional’ colégio Visconde de Porto Seguro, um casal de irmãos, negros, tem sido vítima há tempos de racismo. Com a eleição de Lula, no domingo (30), um deles, o garoto Antônio, de 15 anos, acabou sendo adicionado em um grupo de WhatsApp de alunos da escola, denominado “Fundação Antipestismo” em que as mensagens trocadas eram de cunho não só racista, mas também de apologia ao nazismo.

Outro caso, em Porto Alegre (RS), estudantes do Colégio Israelita Brasileiro fizeram, às gargalhadas, uma live no TikTok com xingamentos a pobres, cuja maioria (72%) é de negros, e nordestinos, “culpando-os pela vitória de Lula”.

Em Florianópolis, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) afirmou ter recebido uma carta de cunho nazista e racista dizendo que “gays, negros, mulheres femininas, gordas e amarelos” serão “destruídos”. A carta é assinada com as iniciais SS (de SchtutzStafell, a polícia do Partido Nazista alemão) e contém entre outros, ataques à população negra.

“Mulher preta nem para carregar filho serve. Lugar de preto é trabalhando na roça, não em faculdade”, diz trecho da carta.

A raiz do fascismo

Mais da metade dos brasileiros (56%, segundo dados do IBGE de 2020), é de negros e negras. No entanto, a sociedade ainda mantém conceitos predominantes colonialistas que fazem dessa população uma camada oprimida e sem os mesmos acessos a políticas públicas como educação, ‘reservados’ à população não negra. Portanto, essas manifestações nas escolas revelam que a luta antirracista deveria estar no centro dos debates da sociedade – da economia à segurança pública, passando por diversos temas como a saúde.

Na educação, por exemplo, a defesa de políticas essenciais como a implementação de leis como a 10.639/1996 que estabelece a obrigatoriedade do ensino de “história e cultura afro-brasileira” nas grades curriculares dos ensinos fundamental e médio seria uma frente eficaz de combate ao racismo. Quem afirma é Anatalina Lourenço.

“É claro que nessas escolas privadas, você tem uma classe média e tem os ricos. Mas tem também uma classe média que acha que é rica e vai reproduzir todo o mecanismo do racismo presente na sociedade. E a opressão começa pela discriminação racial”, diz a dirigente em referência aos alunos terem dirigido suas agressões a estudantes negros.

Somado a isso está o conceito de que o inimigo, para esses agressores, “é o grupo que que foi estigmatizado como inferior e não pode estar na mesma esfera que eles, os privilegiados”, ela complementa.

Anatalina reforça que a luta contra o racismo é uma luta pela vida e desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), que levou a extrema direita ao poder e destruiu todas as políticas de inclusão e ações que vinham sendo implementadas no país para o combate à discriminação racial, “sobreviver” foi a palavra de ordem da população negra.

“Passamos os últimos seis anos desde o golpe tentando sobreviver, tentando garantir a vida e garantir alguns direitos, garantir saúde mental também. E durante todo esse tempo de luta, inclusive por democracia, os episódios de racismo foram cada vez mais frequentes”, ela diz

A dirigente afirma ainda que os assassinatos de negros e negras não só continuaram como crescerem. Dados do 16° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicados em julho deste ano mostram que 78% das mortes violentas intencionais foram de negros.

“Os episódios recentes nas escolas só reforçam que precisamos estar atentos e precisamos incorporar a luta antirracista como uma luta primordial de garantia da vida. Quem está desempregado, no trabalho precarizado, quem passa fome e quem morreu de covid-19 é a população negra e é a população alvo desses ataques que temos vistos após o resultado das eleições”, diz Anatalina Lourenço.

Para a dirigente, em seu discurso, Lula “apontou os problemas cruciais para além da economia e da miséria que atingem a população negra, permitindo que a gente possa vislumbrar, de fato, políticas radicais antirracistas”.

Entre as ‘políticas radicais’, ela cita uma reformulação das cartilhas seguidas pelas políticas de abordagem violenta e estereotipagem de pessoas negras, tratando-as acima de tudo e de antemão, como ‘suspeitas’. Cita também políticas de gestão empresarial que reflitam a realidade brasileira. “Se uma empresa tem 10 gerentes, por exemplo, ao menos a metade deveria ser negra, já que somos mais de 50% da população”, ela pontua.

Ações desta natureza, ela finaliza, evitariam que extremistas se sentissem no direito de agredir e propor a morte de pessoas, no caso os negros, em nome de uma suposta ‘liberdade de expressão’, como costumam justificar. Informações CUT Brasil.

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