O processo que levará a indústria brasileira a chegar plenamente a quarta revolução industrial, a Indústria 4.0, em condições iguais de competitividade com o mundo e que faça o Brasil progredir economicamente e socialmente passa pela afinação do diálogo entre os empresários e o governo, principalmente um governo de viés progressista.
Um dos maiores motivos de reclamação dos empresários brasileiros quando perguntados sobre o que trava o desenvolvimento da indústria no Brasil são os impostos. A irritação dos donos do capital é tamanha, que são capazes de fazer protestos usando um gigante pato amarelo inflável, na frente da sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), contra o aumento de impostos. O pato, além de não gostar de impostos, não tinha apreço pela democracia. A campanha iniciada pela Fiesp em 2015 acabou por apoiar o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, um ano depois.
Para o presidente da CNM/CUT, Paulo Cayres (Paulão), apoiar a democracia é fundamental se o empresariado quiser debater de verdade a melhoria da indústria no Brasil. “Quem é contra a democracia não interessa”, afirma. Ele avalia que também é do interesse dos trabalhadores brigar por uma reforma tributária que facilite o reaquecimento do setor industrial e que não onere os trabalhadores. “Temos consciência que a negociação é tripartite, governo, trabalhadores e empresários, e que só o diálogo democrático entre esses três entes é que vai fazer a indústria avançar”, complementa.
O pato amarelo de 2015 se tornou um dos símbolos de parte das indústrias brasileiras que ainda não entendeu o papel da democracia e do diálogo com a sociedade para construir alternativas que atendam seus interesses. Sua influência paira sobre a Fiesp até hoje. Em julho do ano passado, quando a entidade, de diretoria nova e novos rumos, assinou manifesto em defesa da democracia e contra os movimentos golpistas do ex-presidente Jair Bolsonaro, o grasnar do bicho gigante reapareceu e provocou um racha político da Fiesp que ameaça derrubar a nova diretoria da entidade no início de 2023.
Esse contexto é importante para mostrar as dificuldades que o novo governo federal terá para conduzir a agenda de reindustrialização do país e inserção plena dentro do cenário da Indústria 4.0 no mundo. Mesmo dando sinais de abertura ao diálogo e até atendendo pautas defendidas pelos empresários, como a reforma tributária e o fim do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), será preciso aguardar o fim das tensões entre os donos do capital.
Ferramentas do governo
Superada essas tensões, o novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem nas mãos todas as ferramentas possíveis para impulsionar um novo momento da indústria. “O governo federal é o principal agente na estruturação, articulação e coordenação das políticas que promovem o desenvolvimento industrial e que dão sua sustentação a isso” explica o sociólogo e ex-diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio.
“Por exemplo, o governo pode colocar os bancos públicos, como o BNDES e Banco do Brasil, orientados para organizar e sustentar a estratégia de desenvolvimento industrial, colar o ministério da Ciência e Tecnologia na difusão e desenvolvimento de inovações tecnológicas e articular nossa carteira de cooperação internacional visando integrar nossa economia aos demais países desenvolvidos”, complementa.
Rumo ao diálogo
Visando o diálogo com o setor industrial, o governo federal recriou o ministério do Desenvolvimento, Comércio e Indústria, e sondou empresários para assumir a pasta num primeiro momento. Como não encontrou nomes, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) foi o escolhido para a missão, por ter proximidade com o setor.
Além disso, o presidente Lula pretende recriar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, conhecido como Conselhão, que reunia diversos membros da sociedade, entre eles empresários de vários setores, e personalidades de diferentes áreas do debate público, para aprofundar o diálogo sobre as demandas do país.
Por fim, o governo federal pretende ter um olhar especial para o desenvolvimento econômico respeitando o meio ambiente. Sinal disso foi a ida do ministro da Fazenda Fernando Haddad, junto com a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, representando o novo momento do Brasil para o mundo.
Indústria se movimenta
A agenda ambiental também está na pauta da indústria, a partir do conceito ESG (Environmental, Social and Governance), numa tradução literal: Meio Ambiente, Social e Governança. Ser “socialmente responsável” virou mantra dos donos do capital nos últimos anos, com direito a impacto nas bolsas de valores, e quem não se adequar a isso perderá muito dinheiro futuramente.
A indústria também observa a chegada de novas tecnologias como metaverso, e, principalmente, a implantação da conexão de internet 5G no país, que pode multiplicar a velocidade de transmissão pela rede.
Próxima matéria da série Indústria 4.0
Governo e indústria apresentam suas cartas na mesa, mas e os trabalhadores, eles também possuem planos para o futuro do setor? Sim, eles possuem e estão debatendo isso há muito tempo. Esse será o tema da próxima matéria da série sobre Indústria 4.0.
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