HISTÓRIA DE LUTAS E CONQUISTAS DO SINDICATO DOS METALÚRGICOS DE BH/CONTAGEM E REGIÃO

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Na década de 30, em meio as incertezas que o mundo vivia no contexto político e econômico, o Brasil também passava por importante mudança no modelo socioeconômico. O país, que era dependente da elite agrária e rural, via crescer os grandes centros urbanos, impulsionado pela ascensão da burguesia industrial.

No mesmo período, crescia, atrelado a todo esse processo, o proletariado urbano brasileiro. E com uma classe operária em expansão, surge, também, a necessidade de organização desses trabalhadores para reivindicar melhorias nas condições de salário e trabalho. Em 11 de agosto de 1934, numa reunião realizada na rua Guarany, número 505, um pequeno grupo de operários funda o Sindicato dos Metalúrgicos de Minas Gerais.

Na década em que completaria 20 anos de existência, o Sindicato atingia a maioridade com o avanço da organização dos trabalhadores. Já representando a base territorial de Contagem, futuro parque industrial que se consolidaria no futuro, em 1951 a categoria forma uma Comissão Salarial. Aliados à diretoria do Sindicato, os trabalhadores organizados lutam por melhores reajustes salariais e melhorias nas condições de trabalho.

Exatamente no ano em que o Sindicato completava 20 anos de existência, um dia após o aniversário da entidade, 12 de agosto de 1954, o então presidente Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, então governador de Minas Gerais, inauguram a Mannesmann, em Contagem. Este fora o último ato público realizado pelo presidente antes de tirar a própria vida, doze dias depois.

Em 1955, o Sindicato dos Metalúrgicos buscava melhorias no atendimento aos sócios. A então diretoria discute a ampliação dos benefícios e assistências existentes aos sócios, como a criação do auxílio funerário, médico, dentário.

Em 1956, com a expansão do número de trabalhadores e da base territorial, o Sindicato inicia as discussões sobre a instalação da 1ª Delegacia Sindical na região do Barreiro.

Em 1957, no dia da Independência do Brasil, é realizado o II Congresso Regional dos Metalúrgicos de Minas, em João Monlevade, e o I Congresso Nacional dos Metalúrgicos.

No Sindicato dos Metalúrgicos de BH/Contagem, a diretoria e os trabalhadores lutam pelo reconhecimento da Lei de Férias, garantida pela recente CLT, e pela abertura de diálogo e negociação com a recém criada Mannesmann.

Em 1962 um intenso movimento grevista eclode em Belo Horizonte, Contagem e região. Somente uma assembleia na sede do Sindicato chegou a ter três mil pessoas. No mesmo dia, na Cidade Industrial, uma forte mobilização dos metalúrgicos reivindica aumento salarial de 90% e melhorias nas condições de trabalho.

A Polícia tenta dissipar o movimento com prisões e repressão, mas não tem sucesso. Em quatro dias de greve, a força dos metalúrgicos conquista um reajuste de 60% nos salários.

O Golpe

Em 1963, o povo recusa o modelo parlamentarista aprovado pelo Congresso e o regime presidencialista é restaurado com João Goulart à frente do Brasil. O governo legítimo de Jango não dura muito tempo. A direita conservadora brasileira, notadamente apoiada pelas Forças Armadas, organizou um golpe militar que destituiu Jango do seu cargo. O Brasil mergulhava, em 1º de abril de 1964 num dos períodos mais sombrios da história recente do país. Passávamos a viver sob uma Ditadura Militar.

Mas o golpe não encontrou uma sociedade brasileira apática ou inerte e no Sindicato dos Metalúrgicos não foi diferente, à época, presidido pelo metalúrgico Ênio Seabra. Após o golpe, com o processo de intervenções e caça aos direitos civis e sociais implantados pelo regime, logo o Sindicato foi alvo. Ênio foi destituído e a presidência da entidade voltou para as mãos do “pelego” Onofre Martins.

Seabra voltaria a direção do Sindicato novamente, em 1967. Mesmo ganhando as eleições, mais uma vez as forças do regime não abriram mão do controle da entidade. Em 1969, assume o cargo João Soares Silveira, que permaneceria na presidência até a retomada da diretoria do Sindicato, anos depois.

Diante dos ataques aos direitos, trabalhadores, estudantes e membros da classe artística começam a organizar movimentos de resistência ao regime e são prontamente reprimidos pelas forças armadas.

Mesmo afastados das direções de Sindicatos, líderes dos trabalhadores continuam nas fábricas, alguns fazendo parte de movimentos clandestinos de luta contra o regime.

Depois do AI-5, a mão de ferro da ditadura cai sobre o povo, com torturas, execuções e desaparecimentos de militantes e o exílio de lideranças e de membros da classe artística. A primeira mulher a integrar a direção do Sindicato dos Metalúrgicos, Conceição Imaculada, militante na época, foi presa e sofreu um aborto depois de torturada num quartel no bairro Calafate, em Belo Horizonte.

As lutas continuam até o fim da década e o Sindicato dá exemplo para o Brasil, mostrando que a resistência durante o regime era possível. Nasce na entidade o primeiro movimento grevista depois do golpe.

No dia 16 de abril de 1968, eclode, em Contagem, a primeira greve durante o regime militar instaurado no Brasil. Contra o golpe, pela classe trabalhadora e pelo Brasil, os metalúrgicos de BH/Contagem dão exemplo para o país.

A princípio, cerca de 1200 operários da Siderúrgica Belgo-Minera paralisaram as atividades exigindo aumento salarial imediato na casa dos 25%. A patronal oferece 10%. Dias depois da proposta ser rejeitada, operários da SBE, e Mannesmann também cruzam os braços. Já são mais de 6.000 grevistas.

O movimento grevista é tão forte que começa a incomodar o governo dos militares. O temor era que a mobilização dos operários de Contagem se espalhasse. O ministro do trabalho e coronel Jarbas Passarinho comparece à sede do Sindicato durante uma assembleia para tentar dissuadir os trabalhadores. Cara a cara com os metalúrgicos, ameaça com o uso da força se as condições se agravassem.
Os trabalhadores não recuam a no dia seguinte mais quatro fábricas param: Acesita, Demisa, Indusam e RCA-Victor. Dias depois do início do movimento, agora já eram cerca de 20 mil operários parados na região de Contagem.
Diante da força da greve, o governo parte para o ataque e declara “guerra aos operários mineiros”. A Polícia Militar ocupa as ruas no entorno do parque industrial de Contagem com ordens para reprimir qualquer aglomeração de operários. As empresas aproveitam o clima de caça instalado e vão atrás dos operários nas suas casas, ameaçando cada um com demissão sumária por justa causa.

O movimento é disperso alguns dias depois, mas o clima vitorioso é evidente, com a conquista de 10% inicialmente proposto. Dias depois é anunciada a extensão do reajuste para todos os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.

Em 1978 foi revogado o AI-5 e em 1979, notícias divulgadas no boletim “O Metalúrgico” começam a incomodar os patrões e inúmeras greves foram realizadas em importantes empresas da Grande BH. A maior delas aconteceu na Mannesmann, com centenas de trabalhadores parados contra o fim do turno de sete letras e por reajuste salarial de 20%.

No final da década de 1970, também houve a eclosão de um intenso processo de mobilização e greves em várias partes do país. O Sindicato dos Metalúrgicos foi protagonista nessas lutas.

Os metalúrgicos realizaram greves de ocupação na Mennesmann e o movimento logo se alastrou pelo cinturão industrial da Cidade Industrial.

A década de 80 foi um período marcado pelo crescimento descontrolado da inflação, pelo fim do regime militar e pela retomada da democracia brasileira.

Milhares de operários saíram às ruas contra a ditadura e, mais uma vez, fizeram importantes greves por melhorias trabalhistas. Foi nessa efervescência que os metalúrgicos da oposição sindical em BH e Contagem, juntamente com outras categorias, iniciaram as discussões sobre o novo sindicalismo e, durante um congresso realizado em 1984, fundaram a Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Minas Gerais.

A criação da entidade e a retomada da organização dos trabalhadores foram fundamentais para as grandes mobilizações realizadas nos anos seguintes, sendo a mais importante delas a greve de ocupação da Mannesmann em abril de 1989, em Contagem. Na ocasião, milhares de trabalhadores se levantaram contra o Plano Verão, lançado em janeiro pelo governo Sarney, e lutaram por aumento salarial.

Ao mesmo tempo, trabalhadores da Belgo Mineira, hoje Belgo Arames, também ocuparam a siderúrgica por dois dias resistindo às ordens de reintegração de posse. O impasse só foi resolvido após um acordo entre a diretoria do Sindicato e a empresa.

Na Mannesmann, os empresários resistiam em negociar com a categoria e o movimento ganhou força. A pesar de possuir um mandado de reintegração de posse, a Polícia Militar não invadiu a fábrica temendo uma tragédia, como aconteceu na CSN, em que três operários morreram.

Após sete de dias de ocupação, a empresa concordou em negociar e fechou acordo com a categoria.

Em março de 1989, na Companhia Belgo Mineira, uma mobilização com 100% de paralização dos trabalhadores deflagrou uma greve de ocupação que durou nove dias.

A forte mobilização se espalhou pelo parque industrial de Contagem. Dez dias de ocupação na Mannesmann; adesão total na Mafersa; na SBE, incríveis 30 dias de greve com a fábrica tomada pelos trabalhadores.

Meses depois, em Contagem, outro movimento de ocupação. Mas, dessa vez, com incertezas sobre a posição das forças militares que tentavam intervir na greve, os Metalúrgicos de BH/Contagem não recuaram. A população das redondezas apoia o movimento e envia alimentação para os grevistas dentro das fábricas.

A paralisação geral de 1989 foi vitoriosa, com a conquista de um reajuste salarial de 26%, e colocou os trabalhadores metalúrgicos como interlocutores vivos e fortes da sociedade na conjuntura da época.

Na década de 90, o Sindicato dos Metalúrgicos também esteve presente nas grandes manifestações contra a gestão controversa de Fernando Collor e por uma política salarial que garantisse reposição mensal da inflação e recuperação das perdas salariais, fim das demissões, contrato coletivo de trabalho, entre outros.

Com a virada do milênio, os metalúrgicos caminhavam para o aniversário de 70 anos do Sindicato. E o presente para a categoria e para toda a classe trabalhadora brasileira veio mais cedo. A eleição de um metalúrgico para a Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Os inúmeros avanços conquistados ao longo dos oito anos do Lula na Presidência trouxe benefício para todos. Prova disso é que a partir de 2005 até o fim do mandato do presidente Lula os acordos da campanha salarial dos Metalúrgicos eram fechados sempre com reajuste salarial acima da inflação.

Durante o segundo mandato da presidente Dilma, o Sindicato dos Metalúrgicos foi linha de frente nas lutas contra o golpe orquestrado pela direita neoliberal e pelo golpista Michel Temer.

O Sindicato mobilizou e participou de vários atos de resistência às reformas trabalhista e previdenciária, propostas pela elite brasileira encabeçada por Temer.

Com a eleição do Bolsonaro e a pandemia da Covid-19 os ataques aos direitos da classe trabalhadora foram ainda mais intensificados. Mas o Sindicato dos Metalúrgicos trabalhou e consegui criar vários mecanismos que resguardaram inúmeros direitos dos metalúrgicos, ameaçados por Bolsonaro e Paulo Guedes.

Mais uma vez, na véspera de completar mais uma década de existência, agora próximo dos 90 anos, o presente veio antes, com a eleição, para o seu terceiro mandato, do presidente Lula, colocando fim em um dos piores governos deste país.

Para comemorar esses 90 anos de história, lutas e conquistas, o Sindicato dos Metalúrgicos de BH/Contagem e região preparam um calendário de atividades para todo o ano de 2024.

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