Um estudo realizado pela The School of Life, instituição referência em inteligência e educação emocional, em parceria com a consultoria Robert Half, empresa de soluções em talentos, revela dados alarmantes sobre a saúde mental no ambiente corporativo brasileiro.
Trata-se da 5ª edição da Pesquisa Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho, que mostra que 40% dos profissionais enfrentam problemas de saúde mental. Além disso, segundo o levantamento, 20% dos profissionais brasileiros utilizam medicações para tratar de doenças mentais.
A pesquisa vem à tona em um momento que se celebra o Dia Mundial da Saúde Mental, nesta quinta-feira (10), e reflete uma crescente preocupação com o bem-estar mental de trabalhadores no Brasil.
De acordo com a pesquisa, 18,2% de 387 líderes entrevistados, e 21,43% de 387 liderados de diferentes regiões do País fazem uso de medicação psicofarmacológica, como ansiolíticos e indutores do sono. São remédios usados para lidar com sintomas de ansiedade, melhorar a qualidade do sono ou aumentar a produtividade.
As principais causas dessas enfermidades que acometem o estado mental dos trabalhadores, segundo o relatório, são a pressão pela alta produtividade e a falta de suporte adequado das empresas.
Saúde mental sob pressão
A pesquisa, realizada entre os dias 16 de julho e 16 de agosto de 2024, lista ainda os três principais diagnósticos dos trabalhadores que têm problemas relacionados à saúde mental:
estresse,
burnout
e ansiedade
Além disso, existe uma parcela de profissionais que relata desgaste emocional sem avaliação clínica. Entre os fatores apontados como agravantes está a cobrança excessiva por produtividade.
Mais da metade dos liderados entrevistados (50,30%) afirmou que a pressão por resultados na empresa onde trabalham impacta negativamente sua saúde mental. Enquanto isso, 64,57% dos líderes afirmam discutir questões de saúde mental com seus subordinados frequentemente ou ocasionalmente.
No entanto, um abismo surge quando 71,13% dos liderados declaram que essas conversas ocorrem raramente ou nunca, evidenciando uma desconexão entre a percepção dos líderes e a realidade dos funcionários.
Empresas falham no apoio à saúde mental
Apesar da crescente conscientização sobre o tema, 50,97% dos líderes entrevistados admitiram que a empresa em que trabalham não oferece recursos ou ações para apoiar a saúde mental no local de trabalho.
Além disso, 32,52% desse grupo relatou que não há expectativa de implementação de tais medidas até o final de 2025.
O psiquiatra e professor da The School of Life, Guilherme Spadini, destaca que a saúde mental não deve ser tratada apenas como uma responsabilidade individual dos colaboradores.
Segundo ele, é necessário que as empresas desenvolvam uma cultura organizacional voltada ao cuidado com as pessoas, o que só é possível com projetos contínuos e estruturados de promoção ao bem-estar mental.
“As empresas ainda precisam avançar muito nesse campo. Embora a saúde mental esteja sendo levada cada vez mais a sério, ainda surpreende o fato de que metade delas não tenha recursos estruturados para lidar com o tema. A saúde mental não deve ser tratada apenas como uma responsabilidade individual, mas sim como uma questão que envolve o ecossistema de trabalho como um todo”, explica Spadini.
Assédio moral e o impacto no bem-estar
Outro dado preocupante revelado pela pesquisa é a prevalência do assédio moral no ambiente de trabalho. Dos líderes ouvidos, 18,20% admitiram já ter praticado assédio moral, intencionalmente ou não.
Entre os liderados, 35,12% afirmaram já ter se sentido moralmente assediados. Os números reforçam a importância de as empresas implementarem políticas claras e efetivas para combater esse tipo de comportamento, que compromete seriamente a saúde mental dos profissionais.
Para a diretora associada da Robert Half, Maria Sartori, é fundamental que os gestores desempenhem seu papel de líderes e estejam atentos ao bem-estar de seus times.
“Os gestores não precisam agir como terapeutas, mas devem se portar como verdadeiros líderes, dedicando tempo para a gestão de pessoas e oferecendo abertura para conversas sobre desafios profissionais. Somente assim é possível encontrar, em uma via de mão dupla, estratégias mais equilibradas e saudáveis para lidar com as pressões do dia a dia”, ressalta Sartori.
Caminhos para uma gestão mais saudável
Com os desafios de produtividade, o ambiente de trabalho se tornou um espaço de crescente pressão para os profissionais. Por isso, o estudo destaca a importância de as empresas adotarem medidas efetivas e contínuas para promover a saúde mental.
O cuidado com o bem-estar emocional dos colaboradores é essencial para a construção de um ambiente de trabalho saudável, onde produtividade e saúde caminham lado a lado.
Nesse sentido, a promoção da saúde mental no trabalho requer a criação de espaços para diálogos abertos, além de ações concretas para reduzir o estresse e a ansiedade dos colaboradores.
Entre as sugestões de especialistas, estão:
a implementação de programas de apoio psicológico;
iniciativas de promoção ao bem-estar, como ginástica laboral;
incentivo ao equilíbrio entre vida profissional e pessoal;
cultura organizacional, onde líderes e gestores devem ser capacitados para reconhecer sinais de desgaste emocional e intervir de maneira positiva.
O papel das empresas no futuro da saúde mental
A pesquisa da The School of Life e Robert Half evidencia que há um longo caminho a ser percorrido para garantir a saúde mental no ambiente de trabalho.
Embora alguns avanços sejam perceptíveis, como o aumento da discussão sobre o tema, é imperativo que as empresas compreendam que a responsabilidade pelo bem-estar emocional de seus colaboradores vai além de ações pontuais.
O futuro da saúde mental nas empresas dependerá da implementação de uma cultura de cuidado, onde o suporte seja estruturado e constante, permitindo que os profissionais alcancem o equilíbrio necessário para desempenhar suas funções sem comprometer sua saúde.
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